"Ex libris" significa "dos livros de", é também uma vinheta que se cola nos livros com o nome do proprietário. O BITS, Grupo de Pesquisa Informação, Cultura e Práticas Sociais, é a vinheta sob a qual discutimos interesses diversos ligados às Ciências Humanas e realizamos nossas leituras sobre o mundo atual. Reforçamos aqui este caráter de buscador de conhecimentos, de reflexões sobre o mundo e a vida nessa sociedade digital.

sexta-feira, março 05, 2010

Dominação masculina revisitada por Bourdieu e Crítica ao texto feita por Mariza Corrêa

Bourdieu
Inicia procurando mostrar que “as mulheres, que foram constituídas como seres dotadas de gênero pelo mundo social, podem contribuir para sua própria dominação” (14).
Questões metodológicas...
Ele afirma que descrever as estruturas objetivas do universo social dos cabilas é ao mesmo tempo descrever as estruturas mentais do observador (homem da tradição cultural neomediterrânea).
Ao estudar mais de perto as práticas rituais e míticas dos cabilas, pode-se descobrir um “sistema de princípios de visão e divisão comum à civilização mediterrânea inteira, sistema que sobrevive até hoje em nossas estruturas mentais” (15).
Desse modo, ele procura explicar como as disposições “falonarcísicas”, claramente verificáveis no caso cabila, haviam sido inscritas nos “corpos dos homens e das mulheres das sociedades ocidentais contemporâneas”.
Sua posição de observador é a de alguém que está montando um quebra-cabeças, usando pistas deixadas pelas pessoas que o construíram. Ele se diz informado pela visão cabila (16).

Interpretação e Ideologias

RICOEUR, Paul. Interpretação e Ideologias. 4. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990.

Ricoeur parte de uma análise rigorosa da vontade humana, procurando atingir uma teoria da interpretação do ser.
Método reflexivo que rompe com o idealismo. Procura esclarecer a existência mediante conceitos – elucidar seu sentido (hermenêutica).
FENOMENOLOGIA – compreender o que descreve para elucidar o sentido [1].
Para atingir o essencial da questão da vontade, Ricoeur coloca entre parênteses os temas religiosos da falta de da transcendência.
Suspende o juízo do pecado original para se permitir o estudo sem preconceitos da falibilidade empírica da vontade humana.
A vontade precisa ser estudada em si mesma e seus componentes essenciais são o projeto, a execução e o consentimento. Faz uma correlação entre o voluntário e o involuntário, pois querer é justamente projetar um mundo, apesar ou contra os obstáculos. É também projetar uma intenção que através do consentimento, converte-se em necessidade sofrida e retomada pelo consentimento.
Em Finitude e Culpabilidade ele não discute mais o problema da realidade do mal, mas o problema de sua possibilidade (falibilidade). A finitude não basta para explicar o mal, mas procura saber que finitude possibilita a inserção do mal na realidade humana. O pathos da miséria é o ponto de partida de uma Filosofia do homem. O homem possui uma intermediaridade, ou seja, opera mediações entre contrários ou correlativos. A fonte da falibilidade consiste em certa “não-coincidência do homem consigo mesmo” – comporta, portanto, uma negatividade.
A filosofia seria então refletir sobre esse caráter patético da miséria, que se revela nos níveis do conhecer, do agir e do sentir [2].

O mal–estar na civilização

FREUD, Sigmund. O mal-estar da civilização. Rio de Janeiro: Imago, 1997

Neste texto Freud começa por tratar de uma questão posta por um amigo que é a do “sentimento oceânico”, uma sensação de eternidade, de algo ilimitado e sem fronteiras. Ele passa a discutir a validade do sentimento religioso (p. 131).
“Não é fácil lidar cientificamente com sentimentos” (p. 132).
Freud diz que com esse sentimento denominado “oceânico” se quer falar sobre o sentimento de um vínculo indissolúvel, de unidade com o mundo externo, mas não acha que se trate de um sentimento de natureza primária, um sentimento imediato.
Existe uma coisa de que podemos estar certos, segundo Freud, é o de nosso eu, nosso ego (p.132). Exteriormente, o ego parece ser claramente delimitado, mas no enamoramento e em alguns estados patológicos a fronteira entre o ego e o mundo externo se torna incerta. Desse modo, o sentimento de nosso próprio ego pode sofrer distúrbios e suas fronteiras não são permanentes.

Uma epistemologia de Georges Canguilhem

MACHADO, Roberto. Ciencia e Saber: a trajetória da arqueologia de Michel Foucault. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1981.

Um trecho do livro que fala sobre Canguilhem.

[...]

A história epistemológica de Georges Canguilhem


A filosofia de Canguilhem é uma epistemologia, no sentido de uma consciência crítica dos métodos atuais de saber adequado a seu objeto. É também “uma investigação sobre os procedimentos de produção do conhecimento científico; é uma elucidação das démarches características da ciência; é uma avaliação da racionalidade científica; em suma, é uma análise da cientificidade” <17>.
Ele defende uma epistemologia regional, i.é, “não aceita ou postula a existência de critérios universais de racionalidade ou de cientificidade; procura explicitar os fundamentos de um setor particular do saber científico”. Nesse sentido, se assemelha a Bachelard.
Seu projeto de epistemologia se constrói através de uma reflexão histórica sobre as ciências. Tanto em Canguilhem, quanto em Bachelard, a filosofia se caracteriza por ser uma epistemologia histórica e também uma história epistemologia histórica .

REFLEXÕES SOBRE AS CAUSAS DA LIBERDADE E DA OPRESSÃO SOCIAL

Este não é um fichamento. É o texto original, pois o livro já está esgotado, de Simone Weil, “Reflexões sobre as causas da liberdade e da opressão”, in A Condição Operária e outros estudos sobre a opressão. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, pp. 235-307.

[...]
“No que diz respeito ás coisas humanas, não rir, não chorar, não se indignar, mas compreender”. - ESPINOSA
“0 ser dotado de razão pode fazer de qualquer obstáculo uma matéria de seu trabalho e tirar partido dele.” - MARCO AURËLIO

O período atual é daqueles em que tudo o que normalmente parece constituir uma razão de viver, se desvanece; em que devemos, sob pena de afundarmos no desnorteamento ou na inconsciência, questionar tudo. O triunfo dos movimentos autoritários e nacionalistas arruína um pouco por toda a parte a esperança que a gente honesta tinha depositado na democracia e no pacifismo, isso é só uma parte do mal que nos acabrunha; ele é bem mais profundo e extenso. Podemos perguntar-nos se existe um canto da vida pública ou privada onde as próprias fontes da atividade e da esperança não estejam envenenadas pelas condições em que vivemos, O trabalho não é mais realizado com a consciência orgulhosa de ser útil, mas com o sentimento humilhante e angustiante de se possuir um privilégio concedido por um favor passageiro da sorte, um privilé-[fim da p.235]gio do qual excluímos vários seres humanos porque o desfrutamos, em resumo: um lugar. Os próprios chefes de empresa perderam aquela crença ingênua num progresso econômico ilimitado que lhes dava a ilusão de terem uma missão. O progresso técnico parece ter ido à falência, porque em vez do bem-estar só trouxe às massas essa miséria física e moral onde as vemos se debater; além disso, as inovações técnicas não entram em mais nenhum lugar, ou quase, a não ser nas indústrias de guerra. Quanto ao progresso científico, não se entende para que serve empilhar ainda mais conhecimentos sobre um acúmulo já tão excessivo, que nem o pensamento dos especialistas pode abarcar; e a experiência mostra que nossos avós se enganaram acreditando na difusão das luzes, já que só podemos divulgar para as massas uma miserável caricatura da cultura científica moderna, caricatura que, em vez de formar o pensamento, as acostuma à credulidade. A própria arte sofre o golpe do desnorteamento geral, que, em parte, a priva de seu público, o que detém a inspiração. Finalmente a vida familiar é toda ansiedade desde o momento em que a sociedade se fechou para os jovens. Essa geração para a qual a espera febril do futuro é a vida integral, vegeta no mundo inteiro com a consciência de não ter nenhum futuro. Mal este que, de mais a mais, se é mais agudo para os jovens, é comum para toda a humanidade de hoje. Vivemos uma época privada de futuro. A espera do que virá não é mais esperança, mas angustia.