A pudicícia do imperador Maximiliano era tal que ele se recolhia sozinho na sua cadeira furada, “sem se servir de criados de quarto ou de pajens”... Tal era a de Isabel de Castela, que a rainha morreu de uma úlcera que não quis mostrar; houve mesmo que administrar-lhe a extrema-unção debaixo dos lençóis, pois não queria mostrar os pés. E que dizer de Ana de Áustria que, por mais de cem mil francos, mandou destruir quadros “indecentes”? De Luís XLII, que borrou os frescos do seu quarto? De Mazarino, que mutilava as estátuas?
No oposto, que dizer da baronesa de Montreuil-Bellay, que mandava um dos seus vassalos, quando ia a casa dele, levá-la às cavalitas àquele sítio onde ele próprio ia a pé e estender-lhe o musgo que fazia as vezes de papel? Que dizer de um rei que recebia os seus súbditos na sua cadeira higiênica e mandou que, no teatro, os selvagens ~‘trajassem como se estivessem quase nus”? Estes exemplos, todos da mesma época, mostram que, se o pudor existiu sempre, aplicou-se, ao longo dos séculos, a domínios sensivelmente diferentes. Grande era a tentação de escrever essa história...