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sexta-feira, março 05, 2010

Uma epistemologia de Georges Canguilhem

MACHADO, Roberto. Ciencia e Saber: a trajetória da arqueologia de Michel Foucault. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1981.

Um trecho do livro que fala sobre Canguilhem.

[...]

A história epistemológica de Georges Canguilhem


A filosofia de Canguilhem é uma epistemologia, no sentido de uma consciência crítica dos métodos atuais de saber adequado a seu objeto. É também “uma investigação sobre os procedimentos de produção do conhecimento científico; é uma elucidação das démarches características da ciência; é uma avaliação da racionalidade científica; em suma, é uma análise da cientificidade” <17>.
Ele defende uma epistemologia regional, i.é, “não aceita ou postula a existência de critérios universais de racionalidade ou de cientificidade; procura explicitar os fundamentos de um setor particular do saber científico”. Nesse sentido, se assemelha a Bachelard.
Seu projeto de epistemologia se constrói através de uma reflexão histórica sobre as ciências. Tanto em Canguilhem, quanto em Bachelard, a filosofia se caracteriza por ser uma epistemologia histórica e também uma história epistemologia histórica .

quinta-feira, março 04, 2010

A sociologia moral de Luc Boltanski

BLIC, Damien de. (2000). La sociologia politique et morale de Luc Boltanski. Toulouse, Raison politique, n. 3, p.149-158.

De Blic (2000) discutindo os trabalhos de Boltanski …

O primeiro objeto mais amplo sobre o qual ele vai sistematicamente por à prova esta preocupação é, classicamente, a sociologia de um grupo social: les cadres (os quadros). Ao se ater a uma sociologia dos quadros, o pesquisador é submetido a uma tensão: como levar em conta esta categoria sem naturalizá-la? Como escapar à tentação de hipostasiar tudo enquanto se mede a pregnância social desta figura: ‘de que ciência autônoma se pode se valer da autoridade para contestar a realidade de um princípio de identidade ao qual os agentes sociais concedem sua fé?” se pergunta Boltanski na introdução de seu trabalho. A questão se dirige então para a história da categoria, como testemunhando o título de seu trabalho (a formação de um grupo social), e deve remontar até os anos 1930, época na qual emergem em certos atores a preocupação de promover um movimento das classes médias destinado a romper tanto com a ordem social binária própria ao capitalismo quanto com as reivindicações do mundo do trabalho. O autor mostra então, como, no pré-guerra, a categoria se inscreveu duravelmente no mundo social se apoiando ao mesmo tempo em dispositivos técnicos (representações estatísticas, sistema de fundos de pensão…) e sobre a colocação de esquemas cognitivos. Resulta de certa exploração histórica que o trabalho de construção da categoria ‘quadros’ pode bem ser definida como um trabalho político do qual se pode seguir o desenvolvimento histórico, ligado a certas mobilizações, e que repousa sobre a ação de atores identificáveis (sindicatos de classes médias, portadores da modernização econômica…). É, a partir de agora, uma sociologia da ação política que se coloca e os quadros mostram como esta ação repousa largamente sobre uma capacidade dos atores para universalisar as propriedades locais.
A freqüência deste terreno vem trazer, ao mesmo tempo, vencer estas distâncias com uma sociologia que não lhe permite considerar as pretensões de justiça dos atores (suas formas de denúncia das injustiças pelas quais eles se consideram vítimas) que ele reencontra, nem da capacidade que eles têm de se abstraírem de seus casos particulares para chegar a formas gerais (das quais a categoria “quadros” é um exemplo). Para compreender estas competências de generalização, se impõe a necessidade de constituir sistematicamente uma sociologia da “forma [fim da p. 150] caso”, forma que se pode definir numa primeira aproximação como uma disputa no curso da qual os protagonistas “se dedicam a um intenso trabalho interpretativo e argumentativo, se opõem a um conflito de argumentação” e onde “cada parte procura mobilizar o maior número de recursos em seu favor”. Repousando sobre a questão dos “casos”, o sociólogo pode, de uma forma privilegiada, examinar as operações de generalização que estão sendo feitas (DE BLIC, 2000).